COMO O MARACATU É VISTO HOJE

SUCESSO E VARIEDADE

Os maracatus, seja do tipo nação, seja de orquestra, vivem sua época áurea. Há discos nas lojas, trajes como o do caboclo de lança são vendidos no carnaval, há páginas e mais páginas sobre o ritmo na internet. Hoje fazem parte da abertura oficial do carnaval recifense, em uma cerimônia na qual ocorre a entrega das chaves pelo prefeito para o rei momo e a rainha do carnaval, em pleno coração da parte antiga da cidade: o Marco Zero. Pelo menos seis maracatus-nação gravaram seus CDs: Estrela Brilhante do Recife, Porto Rico do Pina, Cambinda Estrela, Encanto da Alegria, Leão Coroado e Estrela Brilhante de Igarassu. Quanto aos de orquestra, Cruzeiro do Forte, mestre Barachinha e mestre João Paulo já gravaram, entre outros. Também os gravou mestre Salustiano, com a presença de músicos como Siba e sua banda Mestre Ambrósio. Salustiano ainda colaborou para popularizar outros ritmos, como o cavalo-marinho, o coco e o forró.

Atualmente existem mais de 30 grupos de maracatus-nação filiados à Federação Carnavalesca e pelo menos 20 disputam o concurso de agremiações nos oito últimos anos – até a década de 1980, não desfilavam mais do que sete grupos. Katarina Real, antropóloga estadunidense, afirma na obra O Folclore no Carnaval do Recife que existiam entre os anos 1961 e 1966 apenas cinco grupos.

Hoje, além dos denominados, por alguns estudiosos e folcloristas, como tradicionais, há diversos considerados “estilizados” ou “parafolclóricos”. Ao contrário dos tradicionais, reproduzem apenas partes das nações de maracatu, a exemplo de seu conjunto musical e alguns personagens do cortejo. Muitos, no entanto, restringem-se à percussão.

ACEITAÇÃO

Nas décadas de 1950 e 1960, o maracatu de baque virado obteve certa aceitação social, alçado à condição de parte da nossa tradição africana, componente da teoria do Brasil mestiço, formado pelas três raças, dando suporte ao mito da democracia racial. O maracatu de orquestra foi considerado como uma deturpação, uma descaracterização do modelo tradicional, o baque virado. Foi criticado e mesmo perseguido até os anos 1970, quando chegou a ser proibido de desfilar na passarela oficial da cidade durante o carnaval de 1976. Os maracatus de orquestra só adquiriram visibilidade e sucesso nos anos 1990, muito graças à influência de seu resgate pelos jovens sintonizados à cultura pop da época, organizadores do famoso Mangue Beat (veja o quadro “Ícones pop”).

Os maracatus, tanto os de orquestra como os do tipo nação, constituem atualmente um importante símbolo da identidade pernambucana. Sofreu até mesmo uma espécie de desafricanização: um “embranquecimento”. Esse processo histórico acelerou-se nos últimos anos, conferindo-lhe um caráter mais voltado para o espetáculo, vinculado ao turismo e ao mercado de world music. Afora isso, os maracatus hoje são vistos como autêntica cultura pernambucana. É difícil imaginar que até há pouco tempo, sobretudo nos anos 1980, eram rejeitados e marginalizados por uma sociedade consumista e preconceituosa. É parte dessa mesma sociedade que valoriza e se orgulha dos maracatus produzidos em Pernambuco no século 21.

FONTE:http://www.desvendandoahistoria.com.br

HISTÓRIAS DE MARACATU

Eram típicos no carnaval de antigamente. Típicos, numerosos, importantes, suntuosos. No meio do vozerio da mascarada, dominando as marchas dos cordões, ouvia-se ainda longe o rumor constante, uniforme, monótono dos atabaques:

Bum…bum…bum…bum…
Bum…bum…bum…bum…

Era um maracatu. Havia os que gostavam dele e esperavam-no com curiosidade. Havia os que protestavam contra a revivescência africana e resmungavam.

Bum…bum…bum…bum…

No fim da rua, por cima do povo, surdia o grande chapéu de sol vermelho, rodando, oscilando, curvando-se. E o batuque cada vez mais perto, mais perto. Dali a pouco desfilava o cortejo real dos negros. Vinha o rico estandarte com cores vivas e bordados a ouro. Seguiam-se as alas de mulheres ostentando turbantes, saias bem rodadas, corpetes enfeitados de vidrilhos. Traziam fetiches religiosos nas mãos. Depois o Rei e a Rainha, em trajes majestosos, debaixo da ampla umbela de seda encarnada com franjas douradas. Empunhavam os cetros, vestiam longos mantos, e tinham cabeças coroadas. Na retaguarda do préstito, os atabaques, as marimbas, os congás, os pandeiros, as buzinas… As canções que todos entoavam eram ordinariamente nostálgicas, como uma ancestral saudade da terra de berço, ficada tão distante. Costumavam também cantar assim:

Bravos, Ioio! Maracatu Já chegou.
Bravos, Iaia! Maracatu vai passar.

Uma das mulheres empunhava uma grande boneca de pano toda engalanada de fitas, e repetia numa toada dolente:

A boneca é de seda…
A boneca é de seda…

Os maracatus paravam em frente às casas dos protetores e ali dançavam durante alguns minutos. Antigamente licenciavam-se dezenas deles e apresentavam-se com verdadeiro luxo. Nas sedes havia demoradas festas, com danças e batuques, a que assistiam os soberanos sob um docel de veludo. Todos os negros da costa, tão comuns no Recife de ontem, aqueles mesmos que se reuniam , também, religiosamente, na Igreja do Rosário, lá se achavam para tomar parte no toques. O maracatu hoje escasseia e já não tem mais o esplendor de antes. Em menino eu tinha medo dos maracatus. Medo e como uma espécie de piedade intraduzível. Aqueles passos de dança, aqueles trajes esquisitos, aqueles cantos dolentes, me davam uma agonia…Eu me encolhia todo, juntando-me à saia de chita de minha mãe preta, com receio talvez de que os negros do maracatu a levassem também. E eu não sabia ainda ser o maracatu uma saudade…Hoje é que a compreendo, que a sinto, recordando os maracatus de minha infância e de minha terra, vendo os carnavais de outras cidades e de outra época… Parece-me perceber ainda o batuque longínquo, cada vez mais remoto, cada vez mais indeciso, quando, na alta noite da terça-feira, no silêncio e na tristeza do Carnaval acabado, o derradeiro maracatu se recolhia à sede…

Bum…bum…bum…bum…
Bum…bum…bum…bum…

E lá se ia, como se foi, o meu maracatu de menino…

FONTE: Mário Sette (1886 – 1950) Maxambombas e Maracatus
http://www.riomaracatu.com/maracatus1.htm

A Calunga de Angola nos Maracatus do Recife

O Embaixador Alberto da Costa e Silva, que por muitos anos serviu na Embaixada do Brasil em Lisboa, entregou recentemente ao público ledor da língua portuguesa o seu mais recente livro: A Enxada e a Lança – A África antes dos portugueses (Rio, Nova Fronteira, 1992).
Um verdadeiro tratado sobre o continente africano. Todas as suas etnias antes dos Descobrimentos, aparecem aos olhos do leitor interessado em tão fascinantes temas, hoje presentes em nosso mundo contemporâneo. Nas suas 768 páginas, o livro estuda cada uma das regiões com os seus respectivos costumes, lendas e tradições, bem como os vários povos que ali habitavam.
De especial interesse para nós, que há tantos anos estudamos a Instituição dos Reis do Congo e sua presença nos maracatus do Recife, é a forte influência do culto da Calunga entre os ambundos de Angola, guardada como objeto sagrado e poderoso pelos cabeças de certas linhagens; in Estudos sobre a Escravidão Negra v.2. Recife, Editora Massangana, 1988.

CALUNGA DE ANGOLA

Como explica o erudito Alberto da Costa e Silva: “Segundo a lenda, o herói civilizador ambundo, Angola Inene, teria trazido de terras do nordeste ou, conforme outras versões, do mar, as lungas (ou malunga, que é plural em quimbundo da palavra). Esta última origem seria o resultado de interpolação européia, do traduzir equivocado de Calunga, ‘as grandes águas’, por oceano Atlântico, e contrasta com o papel agrário da escultura de madeira, ligada aos ritos de chamar a chuva e da fertilidade. As ‘grandes águas’ podem ter sido um dos afluentes do Zaire ou qualquer outro lago ou rio. Os europeus além disso, interpretaram Calunga como uma alta divindade e talvez tenham contagiado com este novo conceito as crenças ambundas. (…) A Calunga tornou-se assim, e desde há bastante tempo – a contar do fim do século XIII? -, fonte de poder político e de uma organização social fundada na terra, num sítio preciso, e não apenas na estrutura de parentesco. Muito embora tenha sido depois suplantada, em quase toda parte, por novos símbolos da centralização estatal, persistiu como emblema dominante no baixo Lui e ligada ao nome de numerosos ancestrais e fundadores de reinos, bem como aos títulos de vários sobas. Entre os cubas houve um Calunga; Calala Ilunga foi o herói civilizador dos lubas; os quiocos possuem um Calunga entre os seus maiores; os povos do sul do lago Maláuu dizem que Calunga lhes trouxe as novas instituições; a palavra aplica-se entre os lundas, ao senhor, ao chefe, ao rei, e, entre os congos, era, a um só tempo, o título mais comum dos quitomes, uma grande extensão de água e a vasta corrente mítica a separar as duas montanhas que formavam o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. A boneca, com o seu nome, atravesssou o Atlântico e sobrevive nos maracatus brasileiros”.
“Cada lunga vivia num determinado curso d’água. E era guardada por uma linhagem, cujo chefe conhecia o segredo da comunicação com as forças espirituais que a boneca continha. Essa linhagem sobrepunha-se às demais e seu cabeça possuía autoridade territorial sobre toda a área banhada pelo riacho ou pedaço de rio onde morava a lunga. Era ele quem alocava as terras a novas famílias que para ali quisessem mudar-se e, paulatinamente, senhor das chuvas e da fertilidade da terra, passou a receber tributos e a concentrar riqueza e poder. Estabeleceu-se também uma hierarquia entre os vários guardiães de calungas: o custódio da estatueta do rio principal era mais importante do que o dos riachos tributários, a graduação da autoridade fazendo-se conforme a hidrografia”.

CALUNGA DO RECIFE

No Recife a Calunga, também chamada de boneca, se liga ao cortejo das nações africanas, do qual se originou o nosso maracatu a partir da primeira metade do século XIX, segundo esclarece a mesma fonte: “Mantendo-se em segredo, os vínculos entre grupos ambundos, num segredo auxiliado pela ignorância dos senhores de escravos, tinham os chefes vendidos [escravos] de mostrar a fonte do seu poder – e já agora também penhor de unidade do grupo ao Brasil – , a calunga”.
Até os nossos dias a Calunga faz parte do ritual do maracatu, encarnando nos seus axés a força dos antepassados do grupo. Em sua honra são cantadas, ainda dentro da sede, as primeiras loas, quando a Calunga é retirada do altar pela dama-do-paço e passa às mãos da rainha, que a entrega à baiana mais próxima e assim se sucede, de mão em mão até retornar novamente às mãos da soberana.
No Maracatu Elefante, pesquisando entre 1949-52 pelo musicólogo Guerra Peixe, três calungas se destacavam: Dona Emília, Dom Luis e Dona Leopoldina.
Para a calunga “Dona Emília” eram dedicadas as maiores atenções. A ela era entoada a primeira toada, referida acima, na cerimônia também denominada de “a dança da boneca”, “a ela também eram consagrados os cânticos mais fortes: é essa principal boneca levada à porta da igreja de Nossa Senhora do Rosário; com ela o Maracatu Elefante dança diante dos terreiros (de xangô) visitados. É nas canções oferecidas a Dona Emília que os músicos executam o ritmo de Luanda – o toque ‘para salvar os mortos’ ou eguns”; in Maracatus do Recife.
“Dom Luís”, segundo Guerra Peixe, representa “um rei africano”, sendo por isso considerado como “Rei do Congo” pelos membros do grupo; numa clara referência aos primórdios do folguedo, coincidindo com a crença de que os poderes da Calunga estariam ligados aos seus ancestrais africanos, como bem enfoca esta loa:

“A bandêra é brasilêra
Nosso reis veio de Luanda
Ôi, viva Dona Emília
Princesa Pernambucana”

Com a morte de Dona Santa (Maria Júlia do Nascimento), Rainha do Maracatu Elefante, em 1962, a original Nação do Elefante deixou de desfilar, e suas três calungas, juntamente com outros pertences, estão hoje recolhidos ao Museu do Homem do Nordeste da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife.
Naquele ambiente convencional de museu, restam as lembranças daquela boneca que, empunhada pela dama-do-paço vinha às ruas do Recife mostrar a força da nação do Elefante ao som dessas loas:

“Princesa Dona Emília
Pra onde vai? – Vou passeá
Eu vou para Luanda
Vou quebrar saramuná.

Eu vou, eu vou
Eu vou para machá
Eu vou para Luanda
Vou quebrá saramuná

A boneca é de sê!
É de seda e madeira
A boneca é de sê!
É de seda e madeira.
A boneca é de sê!
É de seda e madeira.”

FONTE:http://www.riomaracatu.com/maracatus2.htm
Leonardo Dantas Silva

O BAQUE VIRADO DO MARACATU

Os maracatus ou nações, como preferem alguns autores, são parte da mais pura cultura popular pernambucana. Desfilam ritmo e realeza nos carnavais do Recife, descendendo das reuniões de negros escravos, ou não, do século passado. Quem nunca ouviu falar do folguedo nos carnavais recifences ou na cidade de Olinda?
Em Pernambuco, destacamos a existência de dois tipos de maracatu. O de baque virado, com seus reis e rainhas, e o rural, aquele com os tradicionais caboclos de lança e seus chocalhos. Este último também é chamado de maracatu de “baque solto”, ou de “orquestra”, mas que abordaremos numa outra ocasião. Durante as festividades de Carnaval, não é difícil encontrar um maracatu de baque virado e seus integrantes vestidos como nobres da corte, enquanto os tambores soam alto e forte fazendo vibrar as sacadas e igrejas do centro da cidade.
O foclorista, Roberto Benjamim, frisa em seu livro Folguedos e danças que maracatu (nação africana) é um manifestação criada pelos negros do Brasil – não existe na África nada parecido. Sua origem está nas festividades católicas de Reis Negros, influenciada pelos cultos afro-brasileiros. “Esta ligação é tão forte que o maracatu tem sido tomado como uma expressão religiosa. Na verdade, é uma manifestação lúcida, dos grupos religiosos de culto gegê-nagô do Recife”, diz .
Estas manifestações tiveram origem nas celebrações de coroação dos chamados Reis do Congo. As festividades, constantes nos arquivos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Outros grupos fazem referência à santa em seus cânticos folclóricos. O maracatu permitiu aos negros viverem seus momentos de glória e vestirem-se como em uma corte real portuguesa, no Brasil. Recordando os longínquos momentos de liberdade.

TRADIÇÃO – As marcas das tradições africanas estão incorporadas e presentes nas apresentações. Assim como as características das religiões afro-brasileiras, que com o fim da escravatura, passaram a concorrer com o catolicismo. Isso provocou, novamente, a perseguição destes cultos. O Estado Novo veio para tentar dar o golpe de misericórdia no maracatu.
A tradição conseguiu ser mantida com dificuldade. Para a escritora Katarina Real, o enfraquecimento das nações se deve principalmente ao desmoronamento do orgulho de uma cultura africana e o fim do matriarcado afro-brasileiro. A principal personagem das nações é a rainha. Fazem parte do desfile, ainda, o Rei e toda sua corte, seguidos pelos batidas percussivas dos músicos. “O maracatu de baque virado, Estrela Brilhante, possui 40 músicos”, afirma um dos organizadores da agremiação lá do bairro da Mangabeira, Seu Jair. Desta forma, ainda podemos encontrar nos carnavais da cidade os tradicionais maracatus-nação, em manutenção à cultura negra brasileira. Hoje, os movimentos de cultura popular estão conseguindo respirar e, a duras penas, conseguem colocar suas agremiações na rua.

PERSONAGENS, INSTRUMENTOS E ADEREÇOS

1. PERSONAGENS:

REIS
RAINHA – sempre negra
PRÍNCIPE
PRINCESA
DAMAS DO PAÇO (duas) ou DA BONECA – conduzem a boneca
DAMAS DO BUQUÊ (em número variado) – portam
ramalhetes de flores artificiais. DAMAS DA CORTE – conduzem taças
EMBAIXADOR (em algumas agremiações pode ser o porta-estandarte – no Maracatu ESTRELA BRILHANTE, são personagens distintos. O embaixador faz parte da corte) – veste-se como nobre da corte de Luís XV
PORTA-ESTANDARTE
PAGENS – seguram as caldas dos mantos reais.
ESCRAVO – conduz o pálio, aquele enorme chapéu de sol que proteje o rei e a rainha.
LANCEIROS – formam uma guarda, desfilam em cordões laterais, fechando externamente o grupo.
BAIANAS – vestidas do moda tradicional das baianas. Traje ritual das filhas de santo.
ORQUESTRA – composta unicamente de percussão.
CABOCLO DE PENA – o índio aparece em algumas nações. Tem como função servir de guia e proteção à nação africana.

2. INSTRUMENTOS DA PERCUSSÃO:

MINEIROS
GONGUÊS
TARÓIS
CAIXAS DE GUERRA
BOMBOS

3. ADEREÇOS:

ESTANDARTE – com forma e bordados semelhantes aos das irmandades católicas.
SÍMBOLO – figura em massa em papier-machê. Se muito grandes são carregadas em carroças.
BONECAS – tradicionalmente em madeira. Outros materiais vêm sendo usados nos menos tradicionais.
Traje semelhante ao da dama que a conduz.
COROA – rei e rainha desfilam coroados. Em geral, em latão ou arame a pedras.
DIADEMA – a princesa e algumas damas usam diademas adornados com pedras.
CETROS – rei, rainha, príncipe e princesa usam cetros, trabalhados em madeira ou latão.
ESPADAS E ESPADINS – rei, rainha, príncipe e princesa conduzem espadas ou espadins, em latão dourado ou prateado de tamanhos variados.
MANTOS – rei, rainha, príncipe e princesa e, algumas vezes, a boneca usam mantos.
BUQUÊ – algumas damas usam ramalhetes de flores de pano, papel ou plástico.
TAÇAS – prêmios de anos anteriores, levados pelas damas da corte.
UMBRELA ou PÁLIO – guarda-sol enfeitado por babados e franjas e que protege o rei e a rainha durante o cortejo.
LAMPIÕES – luminárias a gás de carbureto ou velas, necessários ao tempo em que o maracatu desfilava em ruas sem iluminação.
LANÇAS – varas em forma de lança medindo cerca de dois metros, conduzidas pelos lanceiros.

ORIGEM DO FOLGUEDO

A época em que surgiu o maracatu permanece sem uma definição. Apenas a data de 1808 é comprovada e documentada como a mais antiga referência do cortejo. Esta data, entretanto, não estabelece, nem é tida como a da origem da manifestação. É que o viajante Henry Coster, passou pela ilha de Itamaracá no início do século passado e registrou o espetáculo do rei do Congo e sua inigualável beleza. Portanto, quando foi que apareceu pela primeira vez, ninguém sabe ao certo. Sabe-se, porém, que há tempo, quando os escravos ou não eram tidos como animais nas terras brasileiras e ansiavam por liberdade, a sociedade da época precisava contê-los. Para isso, os negros escolhiam um representante que seria encarregado de liderá-los. Este era chamado de o rei da nação africana: o Rei do Congo.
Esta instituição existiu em todo o Brasil Colonial. Possuía o consentimento da igreja católica e dos senhores de escravos, que pretendiam evitar as rebeliões concedendo privilégios aos reis. A idéia possibilitou na verdade uma resistência cultural dos negros em pleno período de repressão da raça. Precisavam lutar pela sua sobrevivência e muitos fugiam. Desta forma, os quilombos foram sendo fundados. Os Reis do Congo eram escolhidos numa bela cerimônia que acontecia nos pátios de igrejas católicas, ligada a Irmandade de Nossa senhora do Rosário e ao culto de São Benedito. Os maracatus e afoxés nasceram da união destas cerimônias às tradições africanas. Com o fim dos Reis do Congo, a população negra continuou celebrando a coroação através da dança e da encenação. O baque virado das alfaias venceu o tempo e os negros vestidos como numa corte real mativeram vivas suas tradições e sua cultura.

FONTE: http://www.riomaracatu.com/maracatus3.htm
Cézar Maia

História Breve de Grupos e Nações de Maracatu

BATUQUE ESTRELADO

1997

Iniciaram-se os primeiros ensaios, sob a supervisão de Walter França,mestre de batuque do Maracatu Estrela Brilhante. Os ensaios aconteciam aos domingos, na quadra coberta do Núcleo de Educação Física e Desportos da UFPE. No final do ano, recebendo o apoio do Mestre Salustiano, os ensaios passam a acontecer no Ilumiara Zumbi, sob a coordenação de Ruy Bandeira.

1998

O Batuque Estrelado faz sua primeira apresentação desfilando no carnaval de Olinda. A partir daí, passou a se apresentar com freqüência, em eventos como o aniversário do Maracatu Piaba de Ouro e a tradicional Festa da Pitomba em Jaboatão dos Guararapes. No mês de agosto, aconteceu a primeira apresentação fora do estado de Pernambuco, no Encontro de Cultura Popular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

1999

Desfila no carnaval de Olinda, com 12 integrantes.

2000

Desfila no carnaval de Olinda, com 15 integrantes.

2001

Este ano marca a evolução do Batuque Estrelado, que passa a contar com 30 integrantes, entre batuqueiros e dançarinas (baianas) e ganha novo estandarte e novas fantasias. Os ensaios passam a ser no Sítio da Trindade, em Casa Amarela, Recife.

2002

Agora contando com 50 integrantes, o Batuque Estrelado possui uma corte, formada por rei, rainha, princesa, vassalo e baianas. Seu crescimento e aumento de popularidade o leva a participar do Encontro de Maracatus no Sitio da Trindade (em janeiro), junto com maracatus tradicionais como o Estrela Brilhante do Recife, o Maracatu Porto Rico, o Cruzeiro do Forte, o Cambida Estrela e o Encanto da Alegria. No mês seguinte, em pleno carnaval, junta-se a maracatus consagrados, como o Piaba de Ouro, o Estrela Brilhante de Igarassu (o mais antigo do Brasil) e o Leão Coroado, num memorável evento no Espaço Ilumiara Zumbi. No mesmo mês, animou foliões do bloco da Level Comunicação e da festa realizada no Kaiser Boat, navio da empresa multinacional Coca-Cola

NAÇÃO PERNAMBUCO

O Maracatu Nação Pernambuco foi fundado no dia 15/12/1989, no Clube Vassourinhas de Olinda, com o objetivo de revitalizar e difundir o potencial histórico, artístico e carnavalesco da cidade de Olinda e do Estado de Pernambuco, a partir do universo da manifestação do maracatu.

Em sua trajetória de realizações, o Nação, como carinhosamente é chamado, desenvolve um trabalho construído a partir da diversidade e resistência das culturas negra, cabocla e brasílica, de origem popular. Tratando-se de uma agremiação cultural carnavalesca de fantasia e tradição, sua função natural é promover a inclusão social, oportunidade de trabalho e a conseqüente arrecadação, no sentido de proporcionar lazer e interação socioculturais para toda gente.

Cumprindo o dever de Embaixador da cultura pernambucana (música, dança e fantasia dramática), o Nação realizou diversas temporadas, apresentando-se em grandes festivais ocorridos no Brasil e em vários países da Europa, Estados Unidos e China.

NAÇÃO ESTRELA BRILHANTE DE RECIFE

A Nação do Maracatu Estrela Brilhante esteve sediada em três comunidades desde a sua origem em Recife. A primeira delas foi em Campo Grande (1906 a 1966), a segunda o Alto do Pascoal – Água Fria (1969 a 1990 aproximadamente) e a terceira desde 1993 em Casa Amarela (na comunidade de Padre Lemos até 1994, e a partir de 95, no Alto José do Pinho, até os dias de hoje). O fundador do Estrela Brilhante foi o Cosme Damião Tavares, conhecido por “Seu Cosmo” – “um homem negro, feito um africano” – natural de Igarassu, nascido na segunda metade do século XIX. Era pescador e veio residir em Recife com o propósito de negociar com a criação e venda de peixes, tendo falecido em 1955.

Após o falecimento de “Seu Cosmo”, o Maracatu Nação Estrela Brilhante continuou a participar do Carnaval do Recife, com a direção de sua esposa, Dona Assunção. Com sua ausência tornou-se cada vez mais difícil sobreviver aos obstáculos pelos quais passavam todos os maracatus na década de 60 (período de declínio das agremiações carnavalescas, por conta da falta de recursos financeiros, frutos da queda do poder aquisitivo, principalmente nas camadas populares).

Poucos anos depois, por volta de 1969/1970, o Estrela Brilhante passou para a comunidade do Alto do Pascoal. A partir de 73, após ter pasado por um período de estabilização em sua nova comunidade, recebe como rainha a yahlorixá Maria Madalena, que aos poucos, com sua forte personalidade, passou a liderar a Nação e conquistar com seu carisma a opinião pública, pois todos queriam vê-la em desfiles pelas ruas do Recife.

No início dos anos 90, estando o Sr. José Martins de Albuquerque, já idoso e doente, sem recursos para manter a agremiação, por sua vez repassou-a para o Sr. Lourenço Molla. Este artísta plástico e carnavalesco, acompanhado por um número considerável de pessoas vindas do Leão Coroado, da Escola de Samba Gigante do Samba e de outros grupos populares da comunidade, reiniciam em 1993 no bairro de Casa Amarela (na comunidde de Padre lemos até 1994) uma nova fase de vida para o Estrela Brilhante.

Até que depois do carnaval de 1995, o Estrela Brilhante passou a ser presidido pela atual rainha Marivalda Maria dos Santos, tendo como sede a sua própria casa, no Alto José do Pinho. Juntamente com o babalorixá e rei do maracatu, Jorge de Xangô, ela vai de forma vigorosa retomando antigos costumes. A Rainha Marivalda com uma postura séria, retoma as raízes do Estrela Brilhante com a ajuda de pessoas que detém o conhecimento a respeito do passado histórico e religioso da Nação Estrela Brilhante.

Desde então o Estrela Brilhante vem conquistando a admiração e o respeito do público pernambucano com seu batuque contagiante e inigualável, guiado pelo Mestre Walter; o carisma e a força da Rainha Dona Marivalda e os esforços apaixonados de toda uma Nação que se orgulha de ser ESTRELA BRILAHNTE!

Por tudo isso, o Maracatu Nação Estrela Brilhante teve a oportunidade de em 1996, registrar toadas de seu repertório no CD Amazônica (Diretor musical, Miguel Kertsman) produzido pela Sony Music; do CD Pernambuco em Concerto (África Produções); e mais recentemente, participou da EXPO 2000 em Hannouver (Alemanha) e outros conceituados Festivais, em países da Europa (França, Espanha, Portugal).

No segundo semestre de 2001 e Estrela Brilhante enfim conseguiu realizar um grande sonho, não só dele, mas de todos os Maracatus de baque virado de Penambuco: gravar um CD unicamente com toadas e baques do maracatu.

No carnaval de 2002 o Estrela Brilhante consegue atingir o primeiro lugar, junto com a Nação Porto Rico, no desfile da Federação Carnavalesca, e coroa com essa vitória todo o tabalho cumprido até hoje.

Bem, essa é a história da Nação Estrela Brilhante, uma história de muitas lutas e de muita dedicação na manuntenção do legado espiritual e material do maracatu em Pernambuco.

Escrito por:
Virgínia Barbosa e Maria Cristina Barbosa

NAÇÃO ESTRELA BRILHANTE DE IGARASSU

O Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu, assim como tantos outros maracatus de Pernambuco, tem uma enorme dificuldade em precisar sua data de fundação. Sabe-se que desde o início da colonização, em Itamaracá e Igarassu, praticavam-se os ritmos e danças nagôs, passados de pai para filho e cantados nos rituais de candomblé pelos negros escravos. Em pesquisas realizadas através de documentos nas igrejas da região, tem-se a informação de que em 1730, data a existência do que pode ser hoje o Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu, fazendo-se o mais antigo de todo Brasil. Como contava a antiga matriarca do Folguedo, Dona Mariú (falecida em 2003 aos quase 105 anos de Idade) a partir de 1824 é que o Maracatu passou para os pais, sendo posteriormente repassado para si e para o seu marido, Sr. Neusa, Mestre da Nação. Dona Mariú passou por todo o século XX ouvindo as loas cantadas pelos seus pais no Maracatu que posteriormente herdaria, passando décadas sob seus cuidados e os cuidados de Dona Emília (a Boneca ou Calunga). Hoje, a Matriarca do Estrela Brilhante de Igarassu é Dona Olga, filha de Dona Mariú, mãe da antiga e acolhedora Nação. Com seu filho e Mestre Gilmar, Dona Olga divide as responsabilidades de manter a tradição. Maracatu é muito mais que tradição cultural, é compromisso ancestral. Quando os batuqueiros de um Maracatu Nação entoam uma loa, não são apenas as suas vozes que ouvimos clamar, mas as de todos os seus ancestrais que bradam um grito de resistência em forma de arte. Dona Mariú faleceu aos 104 anos de idade e com ela levou grande parte da musicalidade e da história da Nação do Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu. Contudo, ficaram seus filhos e, com Dona Olga, que canta e nos encanta com um dos mais fortes ritmos pernambucanos.

Semelhantes Contatos:Presidente Dona Olga de Santana

maracatuestreladeigarassu@gmail.com 3543.1873
Produção Cultural e Executiva Dani Bastos
danibastos30@gmail.com 9133.3571 – 3422.7277

Selo de Gravação unsigned

Tipo de Selo Nenhum

Fonte: www.myspace.com/maracatuestrelabrilhantedeigarassu

NAÇÃO PORTO RICO

Após uma longa existência na cidade de Palmares, a Nação Porto Rico entrou em declínio, reaparecendo algum tempo depois no Recife, onde se reorganizou no bairro de Água Fria, sob a liderança de Zé da Ferida, com o apoio de Pereira da Costa e da COC (Comissão Organizadora do Carnaval). Durante anos participou dos desfiles de carnaval até que a repressão às manifestações afro-brasileiras foi imposta, fragmentando os grupos organizados, em especial as Nações de Maracatu. O assentamento em livro do registro oficial desta
Nação data de 7 de Setembro de 1916, porém numa citação de Pereira da Costa, encontra-se a publicação de uma nota em um jornal recifense de 1914: “Fez ontem seu dendê, em frente e nossa tenda de trabalho, o velho maracatu Porto Rico”.
Com a morte de Zé da Ferida, na década de 50, o maracatu foi recolhido para museu ficando adormecido, até que em 1967, o Rei Eudes Chagas, com o apoio de Luiz de França, Veludinho e a antropóloga Catarina Real, rebatizando-o como Porto Rico do Oriente referencia a Mãe África, saindo nas ruas no carnaval de 1968, sagrando-se campeão, recebeu como presente de um barqueiro e artesão do Pina o símbolo da Nação, a Caravela Santa Maria e dois barcos menores, Pinta e Nina. Restabelecida a Nação, sob a liderança de Eudes, Babalorixá e rei do Porto Rico do Oriente, o maracatu viveu um período de grande ascensão, agregando a comunidade do Pina, a Nação que se constituiu Porto Rico de nossos dias. Com a morte do Rei Eudes Chagas, em 1978, mais uma vez o maracatu foi recolhido ao museu, uma prática dos folcloristas da época, que não respeitavam e não davam o tempo necessário a sucessão do Rei morto. Situado desde 1980 na Macaia de Oxósse, na Rua Eurico Vitrúvio, 483, no bairro do Pina. Sob o comando da Babalorixá Rainha Elda Viana, a única Rainha viva coroada na Igreja do Rosário dos Homens Pretos, no bairro de Santo Antonio, Recife. A Nação de tradição Nagô tem como Rei Tata Raminho do Oxósse. O baque da Nação do Maracatu Porto Rico é conhecido como “O baque das ondas”, devido a sua execução cadenciada, pausada e dolente, recheada com variações vibrantes, lembrando o movimento das ondas do mar.
[texto retirado do CD]

NAÇÃO CAMBINDA ESTRELA

Maracatu de Baque Virado
fundando 1935
Fundador: Manoel Martins da Silva
Recife/Pernambuco/Brasil)

Campina do Barreto – Recife
Mestre Ivaldo Marciano de França Lima

Nasceu em 1935 (no dia 07 de setembro) no alto santa Isabel, no bairro de Casa Amarela, na cidade do Recife.

Inicialmente como sendo de baque solto (ou de lança) Cambinda Estrela mudou o baque em 1953 atendendo as pressões da federação carnavalesca de Pernambuco. Desde esse ano, o Cambinda Estrela passou a fazer parte do carnaval recifense como sendo uma nação de baque virado e os seus desfiles ainda são lembrados por muitos que viveram esta época : famosos foram os desfiles feitos nos anos 70 com o carnavalesco Mario Miranda e brilhantes foram os campeonatos conquistados no ínicio desta mesma década (Cambinda Estrela foi campeão do carnaval de 1970).

Os muitos carnavalescos do Recife suspiravam quando falavam no Cambinda e diziam ser este um dos mais belos maracatus existentes na cidade.

Entretanto, nem tudo são flores e com a chegada dos anos 80, o Cambinda Estrela vai entrando em um processo de decadência e termina por ir “ao
museu” ou ser desativado já em 1988.

Após muitos anos distante das ruas e do carnaval da cidade do Recife, o Cambinda Estrela é reativado em 1997, mais precisamente no dia 02 de outubro.

Fruto de uma cooperação entre alguns estudantes da universidade federal de Pernambuco e diversos brincantes de maracatu da comunidade de Chão de
Estrelas, o Cambinda Estrela retornou às ruas e com muita maestria, desfilou no ano de 1998 no 2º grupo sagrando-se o campeão e ganhando o direito de ascender ao grupo 1ªB já no ano de 1999. O Cambinda Estrela mais uma vez honrou as suas tradições de luta e novamente conquistou o título de campeão, mesmo tendo os integrantes da Federação Carnavalesca sido contra e querendo que outro maracatu o fosse. Cambinda Estrela incomodava por não querer favores e por estar ao lado das reivindicaões de sua comunidade, posicionando-se assim contra o prefeito da cidade do Recife. Após um golpe estatutário dado na Federação carnavalesca, o Cambinda Estrela mesmo tendo sido campeão não teve o direito de ascender a 1ª categoria e por isso disputou novamente o 1ºgrupo B no ano 2000, sendo novamente campeão e levando uma pequena multidão de foliões às ruas de Chão de estrelas na comemoração do título (diziam os populares: nem com prefeito,tem jeito não Cambinda Estrela é de novo o campeão!!)

O Cambinda Estrela destaca-se dos demais maracatus por ter uma relação estreita com as lutas sociais de sua comunidade: é o único maracatu de baque virado com uma proposta para a ressocialização de jovens e adultos do bairro. Nesta proposta, se inclue a luta para alfabetizar os muitos garotos e adolescentes dentro de uma proposta de combate a marginalização e ao tráfico de drogas: O Cambinda Estrela possue alguns grupos que tentam fazer com que os jovens não entrem na criminalidade e exerçam a música como forma de reconstrui-se enquanto cidadão.

Ensinar a ler e escrever combatendo as drogas não são as únicas preocupações do Cambinda Estrela: a resistência no sentido de preservar as tradições do povo pernambucano e ensinar aos mais jovens a tocar os instrumentos, dançar, cantar e confeccionar os figurinos são outras preocupações do maracatu.

Entre todas as nações de maracatu da cidade do Recife, o Cambinda Estrela é a única que tenta a todo custo fazer a ligação entre a necessidade de mudar e a manutenção das tradições culturais.

O Cambinda Estrela é raça : no ano 2000 teve quase todo o seu figurino destruído pelas fortes chuvas que atingiram a comunidade no mês de agosto e já no carnaval de 2001, saía novamente às ruas com quase 300 figurantes.
As dificuldades são muitas, mas o Cambinda Estrela leva a sério as lições dadas pelos quilombos de Palmares e Catucá, resistindo e implementando o seu projeto de defesa das tradições de um povo e de lutar pela melhoria da qualidade de vida das pessoas de sua comunidade.

FONTE:http://www.maracatu.de/ce/index2.htm

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